Logo que começamos a dar os primeiros passos no mergulho, somos apresentados a algumas regras: Respirar lenta e continuamente, e nunca, nunca, prenda a respiração (Sem dúvida a mais importante), nunca mergulhe só, etc.
Porém, há cerca de 10 anos atrás, fiz uma saída em Ubatuba, no mínimo diferente. Ao chegar no ponto (costeira do flamenguinho), estávamos somente o mestre, o instrutor, uma aluna de básico e eu no barco. No briefing, o instrutor informa a sua aluna que eu mergulharia só, pois era experiente, e possuía certificação elevada, porém ele estaria por perto caso necessário. E lá fui eu para meu mergulho solo...que foi de uma tranqüilidade impar!
Quando este fato ocorreu, um pensamento logo se instalou em minha cabeça: Será que SEMPRE precisamos estar com outra pessoa embaixo d’água?
Em determinado momento do livro, o autor afirma que as pessoas tem dois grandes medos embaixo d’água: se afogar e ser comido, e a maneira como se lida com estes medos é colocando outra pessoa (seria uma testemunha? Risos) junto.
A verdade é que muitos mergulhadores experientes mergulham solo mesmo sem saber. Um (bom) instrutor com seus alunos está acompanhado certo? Ele é capaz de ajudá-los se necessário, mas, e se ele precisar de ajuda? Seus alunos, receosos em seus primeiros mergulhos, serão capazes de ajudá-lo? Então, ele está só!
Por outro lado, fotógrafos são péssimos companheiros de mergulho. Param o tempo todo para fazer seus cliques, eventualmente ficando vários minutos sobre a mesma pedra tentando fotografar aquele camarão minúsculo, enquanto você está morrendo de vontade de seguir com seu mergulho. Vale ressaltar que provavelmente ele não estará nem aí para sua presença (a não ser que você o atrapalhe bem na hora da foto!), ou seja, ele não será de tão grande valia assim numa necessidade (e você já está pensando: nunca mais mergulho com ele). Será que ele não estaria melhor sem um dupla?
Alguns mergulhadores mais tarimbados afirmam, inclusive que em certas situações, como penetrações em espaços restritos de naufrágios, o dupla seria um fator complicador, pois obstrui o caminho, levanta silt, e cria enroscos.
Dessa maneira, podemos afirmar que o mergulho solo é mais comum do que se imagina.
Entretanto, quando se fala em mergulhar solo, uma palavra deve vir à tona: auto-suficiência.
O mergulhador auto-suficiente é aquele capaz de se virar sozinho nas mais diversas ocasiões, como perda de gás, por exemplo. Neste contexto, redundância é a palavra de ordem, quer seja no suprimento de gases, instrumentos (computador, Bottom timer, relógio), e até mesmo em itens frugais como máscaras (já se imaginou perdendo a sua num corredor de naufrágio?).
Porém, vale ressaltar que auto-suficiência não significa pendurar todos os seus equipamentos nos d-rings e em seus pulsos. Obviamente, uma máscara reserva, dupla com manifold, reguladores duplos, e roupa seca, podem se fazer desnecessários naquele mergulho de 8 metros na ilha das cabras em um dia de águas claras. Uma questão de bom senso!
Agora, num mergulho profundo, em ambiente hostil, tais traquitanas são mandatórias. É aí que entra o bom senso do mergulhador.
É válido afirmar que as técnicas de auto-suficiência são válidas até mesmo para aqueles que preferem mergulhar com
outra pessoa (a imensa maioria de nós), no sentido de tornar-se um mergulhador melhor, e logo, um melhor dupla.
Obviamente que tudo que escrevo acima não se aplica àqueles que acabam de receber sua certificação básica. Aos iniciantes, a presença de alguém mais experiente, como um divemaster (bom, pelo menos em teoria, ele deve ser mais experiente...risos), é recomendada, até que adquiram experiência, conhecimento e confiança para alçarem vôos mais altos.
Mergulho solo ainda é um tabu. Tente chegar numa operadora de mergulho, dizendo que não quer mergulhar com outra pessoa, e, lhe garanto que você dificilmente terá sucesso em sua empreitada. O “causo” que contei acima foi uma (grata) exceção. Porém eu garanto que se aprofundar no conceito de auto-suficiência não lhe fará mal algum, ajudando inclusive para que se torne um dupla melhor.
P.S. – este texto não possui a pretensão de esgotar o assunto, nem deve ser visto como uma grande referência educacional sobre o tema. Pretendo abordar mais vezes este tema, porém, recomendo fortemente a leitura do
livro acima citado (este sim uma bela obra de referência). Para aqueles que preferem algo “oficial”, a
TDI/SDI oferece um curso entitulado
Solo Diver, onde se ensinam tais conceitos e técnicas (embora hajam pouquíssimos instrutores qualificados para ensiná-lo no Brasil).