Há alguns anos, o filme o segredo do abismo (The Abyss - 1989), nos presenteava, em sua parte final, com uma seqüência onde um mergulhador respirava líquido ao invés de gás, num capacete fechado fazendo, inclusive, uma subida violentamente rápida desde uma profundidade abissal, até a superfície, sem nenhum sinal de doença descompressiva.
Na época, a cena foi muito comentada, me lembro até mesmo de uma matéria no fantástico abordando o assunto (matéria paga para divulgar o filme?), além de comentários em revistas especializadas. Fotos e imagens de ratinhos respirando em um frasco com um líquido translúcido apareciam freqüentemente na mídia, sendo dito à época que era a solução definitiva para o mergulho no futuro.
Mais de 20 anos se passaram, e o assunto volta á tona. Uma nota na edição de janeiro de 2011 da revista DIVER, comenta sobre a proposta apresentada em uma conferência de biomecânica em Veneza (Itália), pelo Dr. Arnold Lande, ex-professor de cirurgia torácica da universidade do Texas.
Sua proposta consiste em encher as vias aéreas (pulmões, traquéia, brônquios, sinus) do mergulhador com perfluorocarbono (PFC), um líquido conhecido pela sua alta capacidade em difundir oxigênio, servindo como carreador para este gás, mantendo sua cabeça dentro de um capacete fechado, cheio de PFC.
Seu sistema corrige o já conhecido problema da exaustão respiratória, causada pelo esforço da musculatura respiratória, que passa a ter de movimentar líquidos, muito mais densos e viscosos do que os gases para os quais foi planejada, através do uso de ativadores biomecânicos que auxiliam na expansão da caixa torácica.
O CO2 resultante dos processos respiratórios é removido através de um cateter central (estilo IntraCath ®), que faz com que seu sangue circule através de uma membrana semipermeável que retira o CO2.
A dificuldade em inibir o reflexo de tosse, poderia, segundo sua proposta, ser contornado com o uso de treinamentos específicos, ou medicações depressoras.
Respirar PFC não é nenhuma novidade. Desde os anos 80 os japoneses já vêm utilizando-o como “sangue artificial”, e desde os anos 90 já é utilizado como meio respiratório para prematuros em algumas UTI’s neonatais, com sucesso.
Relatos anedóticos de testes em Navy Seals, utilizando PFC para respirar já vêm sendo divulgados há alguns anos, sendo relatados efeitos adversos como fraturas de costelas, relacionadas ao esforço respiratório, sem, porém haver documentos comprobatórios.
O uso de PFC como meio respiratório no mergulho é uma idéia tentadora, porém, impraticável. Pelo método descrito acima, seria necessário ser submetido a um procedimento invasivo (afim de instalar o cateter), além do uso de próteses biomecânicas para auxiliar a respiração, e, ocasionalmente, drogas depressoras...Além de precisarmos encontrar cobaias dispostas a testar a idéia. Ou seja uma idéia ainda inviável do ponto de vista prático.
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