terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sobre naufrágios e cursos

Há alguns dias participei de um encontro com amigos “das antigas”, e lá estava uma amiga que recentemente fez um curso de mergulho, e tinha participado de um liveaboard na baía de Ilha Grande (RJ).

Ao começarmos o papo,afirmou que havia feito muitos mergulhos, e que um deles havia sido no naufrágio do “Califórnia”, e que tinha detestado, pois só havia um amontoado de “coisas marrons”, e não viu nada que justificasse o mergulho. Tentei argumentar, porém ela foi irredutível ao afirmar que só tinha coisa marrom, e não tinha graça nenhuma mergulhar lá... prontamente desisti de discutir, e me calei sobre o assunto.

Entretanto, logo comecei a me lembrar de mergulhos que havia feito por lá, dos grandes pedaços de carvão no fundo, da estrutura central com quatro pilares, do condensador da caldeira, dos pedaços de vidros colorido enterrados na areia, até mesmo das cavilhas, que precisamos encontrar durante a prática de mar do curso do Maurício de Carvalho há alguns anos.

Acima: Rifles, ainda encaixotados,no naufrágio do Thistlegorm, em Sharm el Sheikh (Egito)

Embora ela estivesse no direito dela, de não se interessar em naufrágios, não pude deixar de me lembrar da moda de ser “téquidaive”, e de que mergulhar em naufrágios está implicitamente ligado nesse fashionismo, e aí me pergunto: Dentre aqueles que se dizem “especialistas” em naufrágios, que conhecem bastante sobre o assunto, etc. e tal, quantos realmente sabem enxergar o navio?

Identificar um naufrágio inteiro é um tanto quanto óbvio, embora eu ainda me surpreenda com quantas pessoas mergulham no pingüino, e não sabem achar um guincho,mas quando falamos em navios desmantelados, a coisa muda.

Realmente, a primeira vista, naufrágios desmantelados parecem mesmo um monte de ferros marrons no fundo, entretanto, para quem sabe interpretar aquilo que está no fundo, coisas maravilhosas podem aparecer.

Essa visão não aparece da noite para o dia, obviamente que um bom curso ajuda, mas estudo, e experiência têm papel fundamental.

Quando digo que um bom curso ajuda, quero dizer que um BOM curso ajuda!




Ao lado: Guincho no naufrágio do VELASQUES em Ilhabela (SP)


Há muitos cursos de naufrágio espalhados pelas escolas de mergulho do Brasil, porém, devemos sempre ter o pé atrás, pois a maioria dos mergulhadores ficaria estarrecida em saber como é pequena a experiência mínima necessária para virar instrutor de especialidade pelas certificadoras. Como exemplo, podemos citar o de certa certificadora, outrora forte em nosso país, que, de uma única vez, formou vinte (!) instrutores de naufrágio em um final de semana em Angra dos Reis (RJ), há alguns anos atrás.

Se você quiser aprender com alguém, procure quem tem experiência, e pode falar com propriedade do assunto, e, aqui recomendo o curso do Maurício de Carvalho, aliás, o único o qual recomendo atualmente, pois cobre desde a pesquisa documental, até a busca, e conseqüente, mergulho nos navios.

Além de um (bom) curso, é importante buscar conhecimento em outras fontes. Nesse ponto levanto minha bandeira: Mais água, mais livro, e menos internet!

Embora haja bons sites para pesquisa (como o do Maurício, ou o extinto site do Grupo de Pesquisas Subaquáticas), muitas vezes portais bacanas apresentam matérias escritas por pessoas que nem sempre têm amplo conhecimento do assunto, sendo que “copiar e colar” parece ser a regra na internet. Você pode aprender muitas coisas na rede, mas você pode aprender a mergulhar lá?

Bons livros, tais como trabalhos de Gary Gentile, Henry Keatts, etc. são importantes fontes de aprendizado teórico sobre naufrágios, e eu realmente recomendo que o mergulhador que queira melhorar, procure informações além do manual da certificadora, em fonte confiáveis, com informações solidamente calcadas, onde experiências pessoais e métodos são discutidos. Somente é uma pena ainda não possuirmos literatura especializada significativa em língua portuguesa, de maneira a sermos obrigados a recorrer a literatura estrangeira.

Porém, acima de tudo, mergulhar é preciso! De nada vale ter mil cursos, ler “nhentos” sites, e não mergulhar. É na água onde estão os naufrágios, e é na água que se mergulha!

Lembre-se, você pode comprar equipamento, pode comprar treinamento, pode comprar livros, porém, experiência só há uma maneira de se obter.

Saber curtir um mergulho em naufrágios, não é algo que se aprende do nada, requer interesse e perseverança por parte do mergulhador, e, caso este não se interesse em naufrágios, não há problema algum! Ele pode sim ser muito feliz apenas mergulhando para ver peixinhos.

Não me considero um grande expert em naufrágios, longe disso, sou apenas alguém que gosta do assunto, e, apesar de não ser um cara extremamente experiente, já mergulhei o suficiente para saber que apenas ter um pedaço de plástico escrito “Wreck diver” ou algo assim, não te tornará um mergulhador de naufrágio.

Bons mergulhos

Crédito das fotos: Luciana Moraes dos Santos

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