sábado, 26 de maio de 2012

Sobre os níveis de treinamento


O texto abaixo é resultado de um malogrado projeto de tradução que realizei há alguns anos, porém considero o tema interessante, e por isso resolvi compartilhá-lo:

"O sistema de duplas tem falhas básicas
    Desde que as primeiras certificações de mergulho foram oferecidas, na idade da pedra, ensinar aos novos mergulhadores a santidade e infalibilidade do sistema de duplas tem sido mandatário. A mensagem é que o sistema de duplas é comprovadamente seguro e deve-se mergulhar em pares se deseja mergulhar seguro. Mas há muitas falhas lógicas para essa regra absoluta.

    Para começar, ao assumir que ambos os mergulhadores estão bem pareados em experiência e orientação, e igualmente capazes de se ajudar. Tristemente, esse raramente é o caso quando se mergulha com um dupla arranjado aleatoriamente, e o mais comum é que o mais experiente acabe agindo como um instrutor não pago para o menos experiente. Isso constitui um bônus maravilhoso para o novato, mas em caso de uma emergência real o mergulhador inexperiente provavelmente não será capaz assistência apropriada a seu dupla mais experiente sem comprometer a sua  segurança e a de seu dupla em apuros.

   Outro ponto a se considerar, dado o custo da saída, do gás, e a depender do ponto, almoço e recargas nitrox, é que se mergulhadores experientes assumem responsabilidade sobre duplas aleatórios, seus mergulhos não serão a experiência recreacional que eles se inscreveram. Essencialmente, o mais experiente está pagando pelo privilégio de cuidar de um estranho, e provavelmente sem receber agradecimentos por isso.

    A segunda falha na lógica do par de duplas é que o ÚNICO time perfeito é de duas pessoas e essa configuração é fácil para o novato desde o início. Isso simplesmente não é verdade. Um time de duas pessoas É uma das muitas configurações que PODEM funcionar, mas não é algo intuitivo para um iniciante e requer habilidades que não são de forma alguma inatas e são raramente ensinadas nas aulas de mergulho de hoje.

   Mergulhadores técnicos cujas exposições são tipicamente mais longas, profundas, e conjuntamente mais complexas que num mergulho recreacional tradicional, sabem que o tamanho ideal para um time é de três pessoas ou mais... Eles se referem a isso como duplas redundantes… e os benefícios dessa configuração em emergências reais são muitos. Entretanto, comunicações efetivas em times técnicos de múltiplas pessoas requerem que cada membro possua um grau de atenção que os permita expandir sua atenção para coisas mais distantes que o comprimento de um braço… A zona típica de atenção para muitos mergulhadores não treinados nesse tipo de mergulho. Cada membro de um time é auto-suficiente e capaz de completar o mergulho em um plano de contingência sem contar em qualquer um de seus duplas se algo os separar. Em resumo, eles tiveram tempo para se desenvolver e aperfeiçoar habilidades que contam as situações mais comuns de falhas de equipamento e “mau-funcionamento”  operacionais. Mergulhadores solos bem treinados fazem o mesmo.
 
     Programas de treinamento de mergulhadores inicialmente adotaram a idéia de um sistema de duplas de duas pessoas porque fazia muito sentido na época pois o equipamento era menos confiável do que hoje, e coisas como SPG e BCD eram conceitos para uma geração futura de mergulhadores. Entretanto, esses mergulhadores pioneiros foram ensinados a serem auto-suficientes. Os cursos eram mais rígidos, e mais focados em habilidades na água que nas aulas típicas de certificação de hoje. Infelizmente, enquanto equipamento e treinamento evoluíram, o sistema de duplas se tornou um empecilho para muitos mergulhadores, e não a rede de segurança a qual deveria ser."

   O texto acima faz refletir sobre o atual estágio de treinamento. A "educação continuada" foi um grande avanço em relação ao que existia antes: Cursos completamente diferentes entre si, sem um padrão de treinamento, criados ao bel prazer do instrutor, gerando mergulhadores com habilidades e conhecimentos discrepantes.
     Ao padronizar os padrões mínimos de treinamento, as certificadoras, em tese, fizeram com que os mergulhadores fossem criados numa baseline de conhecimento.
   Entretanto, o fato de que com apenas 9 mergulhos alguém já pode ter sua certificação de "Avançado" faz pensar em quão realmente avançado é esse mergulhador.
   Logicamente que o treinamento baseado em níveis progressivos é importante, porém, as certificações, como no exemplo acima, não são garantias de habilidade. Pode-se comprar certificações, porém a experiência só se obtém de uma maneira.
   Por isso, embora encoraje a busca por treinamento, sou um tanto quanto cético sobre o real valor das "carteirinhas". Um mergulhador que completa seu curso básico deveria buscar mergulhar um pouco mais, antes da partir para um próximo nível.
   Chega a ser decepcionante entrar num barco, e ter de "engolir" um dupla com certificação avançada, que é inseguro, e necessita de um pajem, um protetor na água. Isso é ser avançado?
   Por isso digo, busque o conhecimento, a experiência e o treinamento, mas não espere que sua carteirinha vá mergulhar por você.

Nenhum comentário: